A leitura da frase confunde: como entender essa afirmação? Como aparece? Do que se constrói?

     Tentando achar respostas, fácil é encontrar definições e conceitos que o apresentam como antipatia, aversão contra algo ou alguém; sentimento intenso de raiva, desgosto, repulsão, rancor profundo, inimizade. Faz-se acompanhar do desejo de destruir, uma vez que sentimentos, pensamentos, ideias, buscam se expressar através de ações agressivas, destrutivas.

     Seus indícios ou os primeiros sinais no indivíduo podem se apresentar na sensação de que sempre algo de pior vai acontecer; tem péssima ou nenhuma autoestima; compara-se aos outros e tem certeza que é inferior; desconfiado, mantém-se em constante sobreaviso, alerta; relevar, compreender, perdoar são atitudes que desconhece. Guarda rancor; irritado, deseja vingança.

     Esses sintomas psíquicos, se não trabalhados descambam para as exteriorizações odientas.

     Mas, por que ou quem é esse Espírito?

     De forma dura, essa característica é própria de Espíritos inferiores; alguém que se apresenta com sinais muito próximos da origem. Nele a influência da matéria é plena e o componente moral incipiente.

     Em “Tramas do Destino”, 1, o autor analisa que ao se portar dessa forma, pode esse Espírito trazer tragédias não resolvidas e, frente a estímulos, se recorda de desafetos reais ou imaginários. Torna-se segundo ele, um psicopata espiritual. Constantemente em defesa, investe, às claras ou às escondidas em verdadeira animalidade íntima.

    Emmanuel, em “O Consolador” 2, acresce outro detalhe importante: “Na maior parte das vezes, o ódio é o gérmen do amor que foi sufocado, desvirtuado. As grandes expressões afetivas convertidas nas paixões desorientadas, sem compreensão do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por vezes, no instante das tempestades morais da vida, deixando atrás de si as expressões amargas do ódio, como carvões que enegrecem a alma”.

     Se o amor é um laço que une as almas em alegrias, o ódio torna-se algema que reciprocamente, prende.

     Esse Espírito, deixando a vida física continua a cultivar antipatias, lembranças cruéis, elementos fortes que o centram no desejo de revide, vingança. Cria, pensa, inventa perseguições que só afetará o objeto do seu ódio, caso encontre receptividade ou campo mental desguarnecido.

     Até aqui, estudamos exteriorizações, efeitos, possibilidades; porém, sua origem como sentimento, provê, nasce onde?

     A Doutrina Espírita ensina: para que o ódio surja, precisa do cultivo do egoísmo, considerado este como o mais radical dos vícios. Dele deriva todo mal existente, uma vez que leva a que se busque satisfação plena de seus desejos a despeito de tudo e todos.

     Descobre-se desse modo, que o ódio só aparece, existe, porque o egoísta com apego exagerado, excessivo aos próprios interesses, opiniões, desejos, necessidades, coloca-se em primeiro e único lugar em detrimento de ambientes e pessoas com as quais se relacione – é o centro do Universo a quem tudo lhe é devido - quando não consegue ou se nota ameaçado – odeia.

     Descobriu-se dessa forma, a origem do ódio.

     Necessariamente não. O egoísmo também tem seu nascedouro, que é o orgulho. Esse leva a que o Espírito, exaltando sua personalidade, se considere mais, acima dos outros com direitos superiores a quem quer que seja. Essa importância que se dá, os direitos a que se permite, naturalmente o tornam egoísta. Daí a odiar, perseguir, tentar destruir tudo quanto o contraria, é-lhe sequência natural.

     Como esse viver é complexo, difícil, naturalmente acontecem frustrações: é muito comum o ser se sentir vazio; conviver com desilusões; é altivo, soberbo, arrogante. Para manter-se a forma egoísta de ser, é a única que lhe propicia oportunidades de satisfazer-se.

     Sendo esse ser que se admite com direitos totais sobre tudo e todos, melindra-se ao se deparar com obstáculos. Reage com ira, raiva, ódio não escolhendo meios que lhe permitam remover algo ou alguém que se lhe anteponha aos desejos e objetivos.

     Em tese, esse ser desconhece sua natureza com um passado e futuro. Não sabendo ou não se interessando para saber de onde vem, percebendo que a existência se finda na morte, quer todas as satisfações da vida material. Liberdade, bem-estar, benesses, só para si.

    “O ódio é a combustão do orgulho e do egoísmo”.3.

     Haveria antídotos?

     “... quando a criatura sugar com o leite da caridade e tiver fraternidade a embalá-lo; quando enfim, toda uma geração for educada e alimentada com ideias que a razão se desenvolvendo, fortalecerá em vez de falsear. Sob o domínio destas ideias, a aumentarem a fé comum a todos, não mais esbarrando o progresso no orgulho, egoísmo, ódios, as instituições se reformarão por si mesmas e a Humanidade avançará rapidamente para os destinos que lhe estão prometidos na Terra, aguardando os do céu”. 4

Transcrições: 1 – Tramas do Destino, p. 139. – 2 – O Consolador, q. 158 e 339. – 3 – Em Torno do Mestre – Vinícius. 4 – Obras Póstumas, p. 225/232.

Leda Marques Bighetti – outubro/2025