Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, foi a seu tempo, conhecido como “Médico dos Pobres”, isto porque ia além de simplesmente, ouvir seus doentes, consulta-los, prescrever medicação. Ele sofria com a dor de seus pacientes, era todo atenção, bondade e amor. Trabalhava-se continuamente no sentido de substituir seus instintos naturais por virtudes cristãs.

Esse objetivo faz com que demonstrasse, no cotidiano de seus dias, esse respeito para com os semelhantes. Essa sensibilidade tornava-no mais que um simples médico. Associava aos cuidados, ao receituário, fluidos energéticos do amor que seguidamente emanavam de sua alma.

Palavra vestida de emoção, ternura, energia, acordava no paciente o desejo de cooperar, despertando certezas e clareando para cada um os porquês dos momentos difíceis, o papel que a cada um cabia na cura quase sempre de antigas enfermidades cuja causa acompanhava a alma mantendo-a combalida, desesperançada.

Dos pacientes que podiam pagar, recebia; dos outros, nada cobrava, inclusive dava tudo o que no momento tivesse.

Sua devoção e confiança em Maria, a mãe de Jesus, era segundo ele, “sua fonte de consolação”.

Casando-se aos 27 anos, sofre o golpe do falecimento de sua esposa que lhe deixa dois filhos, um com três, outro com um ano de idad

O fato abala-o de tal modo que tudo passa a se lhe apresentar como aborrecido, sem objetivo. Um dia recebe de um amigo, em exemplar da Bíblia que meio sem entusiasmo se dispõe a lê-la. Volta aos tempos de infância, juventude, a um clima que lhe era familiar e que abandonara desde que chegara ao Rio de Janeiro iniciando a Faculdade. Consegue perceber que não estava bem, que algo se passava em seu interior, sem conseguir precisar bem o que era.

Certo dia, um amigo, Dr. Travassos, tradutor de “O Livro dos Espíritos”, presenteia-o com um exemplar que o Dr. começa a ler no bonde que o levava da cidade ao bairro de sua residência. Percebe a ocorrência de algo estranho – sem explicar como, sabe que conhecia aquela matéria que o encanta. Busca conhecer mais, procura, estuda e após dez anos em 16 de agosto de 1886 no Grande Salão da Guarda Velha, diante de duas mil pessoas solenemente proclama sua adesão ao Espiritismo.

Não obstante sua habitual mansuetude, espírito bondoso, fraternal, certa vez em que a Doutrina Espírita foi atacada, com sua inteligência, dialética, conhecimento e coragem defendeu-a com tal denodo que lhe valeu ser chamado de “Kardec brasileiro”. Foi Presidente da FEB de 1895 a 1900.

Esteve envolvido com a vida Política por vinte anos e teve ação destacada indo desde vereador, deputado geral até Presidente do Conselho Municipal, prestando relevantes serviços à Pátria.

Casa-se novamente e chegam-lhe mais sete filhos. Passou por todas as formas de privação financeira sempre resolvidas ou atendidas das formas mais surpreendentes possível.

Preocupava-se com o próximo como se todos fossem seus filhos.

Em plena doença, com o corpo todo inchado pela anasarca* era sublime nos testemunhos de paciência, colaboração com os colegas que dele cuidavam, naquele desguarnecido quarto, na residência humilde. Privado dos movimentos e da fala, apenas seus lindos olhos verdes se moviam expressando a pureza de seu coração, a extraordinária fé de verdadeiro apóstolo.

Corações bondosos, agradecidos, revezavam-se dia e noite em romaria levando solidariedade e sigilosamente deixando uma moeda, uma cédula, um alimento que pudesse ser de valia à família.

Em 11 de abril, sentindo ser chegada a hora de sua partida, pede ajuda para que o ergam e com a cabeça levantada, olhos voltados para o alto, entre lágrimas consegue dizer: “ Virgem Santíssima, Rainha do Céu, advogada de nossas súplicas. Junto ao Divino Mestre e a Deus Todo poderoso, eu te peço não que deixe de sofrer, mas que meu pobre espírito aproveite todo sofrimento e te peço pelos irmãos que ficam, por esses pobres amigos, doentes do corpo e da alma, que aqui vieram buscar no teu humilde servo uma migalha de consolo e amor. Assiste-os por caridade, dá-lhes Senhora a tua paz, Paz do Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Nosso Senhor Jesus Cristo, louvado seja teu nome. Louvado seja o nome de Jesus. Louvado seja Deus”.

E... morreu. E desencarnou, pois, narram os anais, que na noite de 12 de abril de 1900, as sete horas, na habitual sessão da Ceia do Senhor, na FEB, todos os que ali estavam, ouviram pela mediunidade de Frederico Junior a palavra do querido Espírito que, em mensagem longa mais uma vez agradecia a Deus, a Jesus, a Maria as bênçãos com que misericordiosamente fora recebido na pátria espiritual.

*anasarca – inchaço generalizado característico distribuído por todo o corpo devido ao acúmulo de fluido no espaço extracelular. Geralmente causado por insuficiência cardíaca ou renal, podendo ter outras causas.

Leda Marques Bighetti