“O Céu e o Inferno”

Ou

A Justiça Divina Segundo o Espiritismo

 Exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, sobre as penalidades e recompensas futuras, sobre os anjos e demônios, sobre as penas, etc., seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte.

                                                      POR

                                                Allan Kardec

                                                                       “Por mim mesmo juro – disse o Senhor

                                                             Deus – que não quero a morte do ímpio,

                                                             senão que ele se converta, que deixe o

                                                             mau caminho e que viva.”

                                                             (EZEQUIEL, 33:11.)

     Em 30 de setembro de 1863, Allan Kardec recebe do Espírito E. pelo médium Sr. d’A, o seguinte aviso:

     “É chegada a hora em que a Igreja tem de prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira por que pratica os ensinos do Cristo, do uso que fez da sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que levou os Espíritos. A hora é vinda em que ela tem de dar a César o que é de César e de assumir a responsabilidade de todos os seus atos. Deus a julgou, e a reconheceu inapta, daqui por diante, para a missão, de progresso que incumbe a toda autoridade espiritual. Somente por meio de uma transformação absoluta lhe seria possível viver; mas, resignar-se-á ela a essa transformação? Não, pois que, então, já não seria a Igreja; para assimilar as verdades e as descobertas da Ciência, teria de renunciar aos dogmas que lhe servem de fundamentos; para volver à prática rigorosa dos preceitos do Evangelho, teria que renunciar ao poder, à dominação, de trocar o fausto e a púrpura pela simplicidade e humildade apostólica. Ela se acha nesta alternativa: ou se suicida, transformando-se; ou sucumbe nas garras do progresso, se permanecer estacionária.”  

     A mensagem prossegue fazendo alusão a série de situações hostis que aconteciam desde o lançamento do Evangelho e continuará quando do lançamento da edição de “O Céu e o Inferno” em clima que se incrementava desde janeiro de 1865 quando na Revista Espírita Allan Kardec publica um artigo – Da Apreensão da Morte, -  verdadeira peça acusatória. No mês de março na mesma Revista – Onde o Céu -. Essas matérias apareceram como simples artigos, que futuramente seriam incluídas no livro. Nesta mesma edição -1865 -, na sessão “Notícias Bibliográficas” Allan Kardec escreve que não lhe cabia elogia-lo ou critica-lo, por isso apenas daria a conhecer o objetivo e reproduzir o prefácio, do qual destacamos alguns itens:

     - o título indica seu objetivo;

     - estão reunidos elementos próprios para esclarecer o homem sobre seu destino; - nada do que aí consta é de opinião pessoal “... que não teria nenhuma autoridade”... tudo é deduzido da observação e da concordância dos fatos.

     - “O Livro dos Espíritos” é a pedra angular do edifício: era necessário dar-lhe desenvolvimentos, deduzir-lhe todas as consequências e todas as aplicações, à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações. Foi o que fizemos no Livro dos Médiuns e no Evangelho Segundo o Espiritismo, em pontos de vista especiais; é o que fazemos nesta obra sob um outro ponto de vista, e é o que faremos sucessivamente nas que nos restam publicar, e que virão a seu tempo”.

     - “... O Evangelho Segundo o Espiritismo” já era um passo à frente: “O Céu e o Inferno é mais um passo cujo alcance será mais facilmente compreendido, porque toca ao vivo certas questões: mas não devia vir mais cedo”.  - Considerada a época em que vieram as ideias espíritas, o momento foi certo: se antes teria sucumbido pois não havia simpatias, o interesse não estava desperto; se mais tarde teria perdido a ocasião favorável e o conteúdo poderia tomar outro curso do qual seria difícil retomar “... era necessário deixar às velhas ideias o tempo de se gastarem e provar sua insuficiência antes de apresentar as novas”.

     - “As ideias prematuras abortam porque não se está maduro para as compreender e ainda não se faz sentir a necessidade de uma mudança de posição”... “hoje, uma formidável reação se opera no sentido progressivo, contra o espírito estacionário, ou retrógrado, da rotina”...

     “... Estando chegados os tempos da renovação, conforme os desígnios divinos, era preciso que, em meio às ruínas do velho edifício e para não perder a coragem, o homem entrevisse as fiadas da nova ordem de coisas; era preciso que o marinheiro percebesse a estrela polar, que deve guia-lo ao porto”.

    “... A primeira parte desta obra intitulada DOUTRINA contém o exame comparado das diversas crenças sobre o céu e o inferno, os anjos e os demônios, as penas e recompensas futuras; o dogma das penas eternas aí é encarado de maneira especial e refutado por argumentos tirados das mesmas leis da natureza e que lhes demonstram não só o lado ilógico, mas sua impossibilidade material”...     “A segunda parte encerra numerosos exemplos em apoio da teoria, ou melhor, serviram ao estabelecimento da teoria”... “... os exemplos poderiam ser multiplicados ao infinito. Para evitar repetições fastidiosas tivemos que fazer escolha entre os mais instrutivos”. “... Cada um desses estudos é um exemplo”... “...A vida de além-túmulo aí se desenrola sob todos os seus aspectos como um vasto panorama”...

     E a matéria prossegue não só nasentre linhas deixadas como também na sua conclusão acrescentando em cada palavra instrução, reflexões em exemplos que exibem motivos de esperança, consolação, novos suportes para que se firme a certeza do futuro e na justiça de Deus.

     Ao final dessa matéria em destaque anuncia o lançamento: “para esta brochura” ...” que inscrevemos com prazer entre os livros recomendados”. É uma exposição completa, posto que sumária dos princípios verdadeiros da doutrina, em linguagem familiar, ao alcance de todos, e sob uma forma atraente. Fazer a análise desta produção seria fazer a de O Livro dos Espíritos e de O Livro dos Médiuns. Não é, pois, como contendo ideias novas, que recomendamos esse opúsculo, mas como um meio de propagar a doutrina.  

                                                                            Allan Kardec