1 – Através dos tempos, os homens fizeram as mais diversas ideias, e procuraram explicar e entender a Criação. Tudo isso foi, é, muito importante, e representa o estágio, o grau de conhecimento dos povos através dos tempos.

             

Com o passar, entretanto, a razão apoiada na Ciência reconheceu a falta de base, de coerência de algumas teorias. As reflexões que os Espíritos passaram, confirmam pesquisas, já há muito admitidas por mentes esclarecidas.

             

A grande objeção é que, tanto as razões apresentadas pelo Espiritismo, como as da Ciência, se contrapõem aos textos bíblicos. Se nos aprofundarmos, porém, veremos que essa contradição é mais aparente do que real, uma vez que é resultante da interpretação das letras no seu sentido alegórico.

             

Assim destaca-se ou enquadra-se nesses raciocínios a questão do primeiro homem centrada na pessoa de Adão, sendo ele apresentado como tronco único para toda Humanidade.

             

O Espiritismo, como já estudado, não aceita a alegoria de que Deus formou o homem da terra e assoprou-lhe a vida nas narinas. Já vimos Moisés que, pressionado por seu povo para querer saber a origem do homem, observando o trabalho do oleiro que transformava o barro da Terra e dava-lhe as diferentes formas, aplica a analogia para Deus. 

             

Depois, Adão vai dormir sozinho e acorda acompanhado de Eva, que Deus havia criado a partir de uma costela tirada do próprio Adão. Se Deus podia criar do nada porque precisaria de uma costela?

             

Exegetas e comentaristas acreditam ter essa alegoria uma função social, isto é, incutir no homem respeito pela companheira, objetivo que seria mais bem atingido se Deus criasse ambos ao mesmo tempo. A Bíblia, ao dar preferência ao homem como criado primeiro, atende aos preconceitos da época; concorre para a situação de dependência e subserviência das sociedades patriarcais. O próprio Moisés não compreenderia uma mulher criada ao mesmo tempo em que o homem.

             

Aliás, a história das Religiões recorda os processos mitológicos da criação em que os próprios deuses eram tirados dos corpos de outros deuses. No caso dos seres humanos, igualmente, como no caso da Índia e a descendência de Brama, em que os homens que compõe as castas são originalmente tirados de determinadas partes de Deus.

             

Há ainda a outra alegoria – a do pecado original – (já estudado) – no qual a mulher por ser inferior, põe o homem a perder.

             

O Cristianismo veio modificar esta conceituação, típica das sociedades patriarcais de toda Antiguidade, ao valorizar a mulher, começando pelo nascimento de Jesus. O Espiritismo, desenvolvimento natural do Cristianismo, completa essa forma de entender, ao revelar que homem e mulher só existem como expressões da vida nos planos inferiores.

             

Não têm sexo os Espíritos e encarnam, nesta ou naquela exteriorização fisiológica de acordo com suas necessidades evolutivas.

             

Quanto a Adão, admite que realmente tenha existido, personificado nas primeiras idades do mundo em meio a povos já existentes. A espécie humana não começou nele ou por ele, mas pelo encadeamento natural de povos com povos.

             

Há contradição entre a Bíblia e o Espiritismo?

             

Não. Há apenas a explicação da alegoria bíblica, levando a entender o espírito da letra.

             

Os Espíritos esclarecem bem esta questão na questão 47 de “O Livro dos Espíritos".

– A espécie humana estava entre os elementos orgânicos do globo terrestre?

– Sim, e veio a seu tempo; foi isso que deu motivo a dizer-se que o homem foi feito do limo da Terra.

Sem esse entender, a Bíblia seria um livro absurdo, contraditório e inaceitável por aqueles que pensam.

             

A Criação, portanto, não se assemelha aos grosseiros trabalhos humanos.

             

Deus cria através de processos cósmicos ainda inacessíveis ao nosso entendimento. Os livros da Bíblia não poderiam tratar da Criação do homem senão dessa forma mágica, alegórica.

             Próximo estudo: Os seis dias da criação