O Livro dos Espíritos

Contendo os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade (Segundo o ensinamento dos Espíritos superiores, através de diversos médiuns, recebidos e ordenados por Allan Kardec).

LIVRO SEGUNDO

“MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS”

CAPÍTULO I – DOS ESPÍRITOS

QUESTÕES DE 76 A 131

I – Origem e Natureza dos Espíritos – 76 A 83

II – Mundo Normal     e Primitivo – 84 A 87

III – Forma e Ubiquidade dos Espíritos – 88 A 92ª

IV – Perispírito – 93 A 95

V – Diferentes ordens de Espíritos – 96 A 99

VI – Escala Espírita – 100 A 113

VII – Progressão dos Espíritos – 114 A 127

VIII - Anjos e Demônios – 128 A 131

ANJOS E DEMÔNIOS - 2

          Da questão 131 em diante estudaremos a origem da crença nos demônios.

          Em todas as idades do mundo encontraremos o homem centrado num poder superior em cultos de louvor, apaziguamento, parceria visando objetivos, realizações materiais. Anjos, demônios preenchem os ritos da Antiguidade em meio ao politeísmo, as fábulas da Mitologia, crenças essas universais e tão antigas quanto o mundo.

          Esse viver focado no sobrenatural exerceu em pessoas e povos considerável influência chegando ao passional, ao fanático das oferendas cruentas e incruentas.

          O homem, nessa infância da Humanidade entende a vida, os acontecimentos que a constituem, como arbitrários, nos quais desencarnados definiam destinos.

          Embora o tempo tenha transcorrido, muitas dessas ideias permanecem principalmente no que diz respeito ao atendimento às necessidades e conflitos materiais, em que poderes extra-humanos ainda são buscados na constante luta entre o bem e o mal, como se fossem dois poderes rivais, o que racionalmente não se pode admitir.

          Incapaz de penetrar a essência do Ser Supremo nasce a ideia dos dois princípios, no qual se encontra a ideia dos demônios.

           O Cristianismo racionalmente ensina-nos que:

            “Deus é único, eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições”.

          Segundo as várias crenças havidas, Satanás é o chefe, o rei dos demônios, personificação do mal o praticando contínua e exclusivamente.

          Há que se refletir que:

          - existe ele desde toda eternidade como Deus  ou lhe é posterior?

          - existindo desde toda eternidade é “incriado”, e, por consequência, igual a Deus.

          - esse Deus, por sua vez deixará de ser único porque haverá um deus do mal.

          - e se lhe for posterior? Nesse caso passa a ser uma criatura de Deus que o teria criado incapaz de fazer o bem, de arrepender-se, mudar, votado exclusiva e irremediavelmente ao mal.

          - não sendo o mal obra de Deus e o demônio “alguém” por Ele criado, deixaria o Pai de fazer jus àqueles superlativos definidos pelo Cristianismo. 

          - se Satã e os demônios eram anjos, eram perfeitos – como puderam falir entrando em triste retrocesso, retrogradação?

          - só parte dos demônios está no inferno em ocupações que consistem em martirizar as almas que seduziram; outra parte deles vaga em liberdade em meio aos homens, envolvendo-se  em tudo quanto se passa de inferior na Terra, dando-se ao prazer de incentivar, se comprazer e praticar o mal, seduzindo almas que eles próprios depois se incumbem de punir, levando-as ao inferno.

         - por mais que uma alma erre em que lugar, como fica a oportunidade do resgate, a regeneração através do arrependimento, expiação e reparação?

          Após esse poucos raciocínios entre inúmeros outros possíveis, segundo a Doutrina Espírita, nem anjos, nem demônios são entidades distintas criadas à parte e com finalidades diferentes. A Criação de seres inteligentes é uma só.

          Unidos a corpos materiais, constituem a Humanidade que povoa não só a Terra como outras inúmeras outras esferas no Universo.

          Libertos do corpo material constituem o mundo espiritual povoando os espaços.

          A todos Deus criou perfectíveis, deu-lhes como objetivo a perfeição relativa com a felicidade que dela decorre estado a ser alcançado pelo esforço pessoal a fim de que lhe pertença o mérito.

          Desde o instante da Criação, encarnado ou desencarnado, o ser progride. Quando atinge o apogeu é o puro Espírito ou anjo, segundo expressão popular. Desde aquele início até o anjo há uma linha na qual cada segmento assinala um grau de progresso em progressão.

          As reflexões prosseguem e se encerram no próximo mês.

            Para aprofundamento, encontraremos bibliografia em “A Gênese” – cap. X e XIV: “Deus na natureza” – Camille Flammarion II; “Revista Espírita” ano 1866 pag. 67-71 a 77; 1861 – pag. 45 e 1868 pag. 166 – 1859 pag. 80; “Evolução em Dois Mundos” cap 1; “Mecanismos da Mediunidade” cap III, ambos de André Luiz e “O Livro dos Médiuns” itens 75-77 e 98. Também no livro Educação Mediúnica – Teoria e Prática - vol 1 - Ribeirão Preto: BELE, 2005 de Leda Marques Bighetti. Para enriquecimento do tema remetemos ainda a: Gabriel Delanne – Evolução Anímica, Hermínio C. Miranda – A Memória e o Tempo, além dos citados ou transcritos no texto.

Leda Marques Bighetti – Setembro / 2017