Se
o homem, em essência, é sua alma, a preocupação maior deve centrar-se no
Espírito uma vez que é o único componente que permanece na sucessão das
encarnações e dos mundos que habita.
Caminheiro de muitas
etapas traz lastro das inúmeras existências, que por não terem sido
trabalhadas, submete-o a condições quase sempre delicadas.
Frente a esses
arroubos, que aparentemente surgem acostumados a relacionar-se com eles através
de castigos físicos, flagelações, sacrifícios, promessas e recompensas, é
descomunal a luta de se formatar em responsabilidade individual, com fundamento
nos princípios espíritas da reparação na proporcionalidade relativa ao grau
espiritual de cada um.
Daí a importância de
despertar para usar a razão, questionando não exatamente porquês uma vez que
sabe estar em colheita dos aspectos que necessita para não mais reincidir.
Sem perder de vista o
sentimento, esse apelo à inteligência deverá estabelecer operações concretas
que se exteriorizariam em não mais fazer ou sublimar em direções novas,
altruístas em ações diferentes daquelas que o instinto pede.
Nesse sentido, a
filosofia grega, através de Sócrates, sugere algo muito importante nesse
descobrir-se para renovar. Estamos falando da maiêutica, na qual pelo
interrogatório que o homem faz consigo, propicia afloramento de ideias inatas,
de impressões que só a preexistência da alma pode explicar, colocando o próprio
Espírito com o que está latente no inconsciente. Através desses questionamentos,
chega a conhecer-se, descobrir também coisas belas, deixar que detalhes aflorem
ao consciente. Conhecendo-se nesse lado, tem coragem para dinamizar-se.
Vemos que as lembranças
do pretérito, não importam se positivas ou piores, construíram-se pela
repetição formando hábitos, de forma que, na maioria das vezes, está o homem
pronto para reagir.
As reflexões a que nos
permitimos hoje mostra o belíssimo desafio que convoca cada um, para,
conhecendo-se, reeducar-se, isto é formar hábitos diferentes daqueles
incrustrados.
Isso é tão importante,
não só pelo valor que o ser demonstra em modelar-se bonito, probo e leal no
caráter que se enquadra no item doutrinário quando ensina que:
“... aquele que progrediu moralmente traz, ao renascer, qualidades
naturais, como o que progrediu intelectualmente traz ideias inatas;
identificado com o bem, pratica-o sem esforço, sem cálculo e, por assim dizer,
sem pensar. (OLE 894).
O estudo propõe,
segundo o dizer de Aristóteles de que “...
o hábito é uma segunda natureza”, para na atual encarnação, tomarmos o
processo educativo nas mãos e empenhar-nos na formação de bons hábitos
intelectuais e morais. Enriquecer o consciente de tal forma que um dia no tempo
as lembranças intuitivas sejam facilitadoras para compreensão da bênção de
estar encarnado avivando aquele ponto de partida referido em “O Evangelho
Segundo o Espiritismo” (VIII, 4
§ 2) a partir do qual o Espírito “...
renasce maior, mais forte moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela
intuição que conserva da experiência adquirida”.
Leda Marques Bighetti – Outubro/2016 |