Reflexões da autora em quatro textos: Neste
estudo, subsidiados por pensadores e lideres religiosos de um tempo próprio,
estaremos afirmando que o homem é mau. Calvino
(1509 1564) impressionado pelo dogma do pecado original considerou a natureza
humana irremediavelmente corrompida. Nenhuma boa obra poderia redimi-lo.
Somente a fé teria esse poder. A fé,
entretanto, seria ou é, segundo ele, um dom de Deus e não uma conquista do
homem, logo esse homem estaria eleito por Deus para salvação ou perdição por
toda eternidade. Dai a origem da sua Doutrina da Predestinação. Salvação
independeria de boas ou más obras. Zwinglio
proclamava: “Deus é o primeiro princípio
do pecado. É por divina necessidade que o homem comete todos os crimes”. Melanchton
- “A predestinação divina tira do homem a
liberdade porque tudo acontece segundo seus decretos. O adultério de Davi e a
traição de Judas são obras de Deus assim como a conversão de Paulo”. Luthero
– “Tudo se realiza segundo decretos
imutáveis de Deus que opera em nós o bem e o mal”. Thomas
Hobbles – (1588 – 1936) vê o ser humano como inimigo do seu semelhante. O homem
é o lobo do homem - é uma guerra que é de todos os homens contra todos os
homens. A vida, ele a caracteriza por três palavras: curta – brutal e
repelente. Oswald
Splengler (1880 – 1936) “O homem é um
animal de rapina e o ódio é o mais legítimo de todos os sentimentos desse
animal”. Spencer (1820- 1903) parte de outros
pressupostos. Apoiando o evolucionismo não aceita que a criança seja dotada de
bondade inata. Ao contrário assemelha-se como o homem primitivo e selvagem.
Precisa da intervenção zelosa de um mestre e de castigos. Schopenhauer
(1788 – 1860) ridiculariza o estado primitivo de Rousseau e o otimismo
sistemático de Leibniz. Quase chega a reconhecer que o absurdo da vida do homem
radica-se numa culpa original, numa queda primitiva e consequente corrupção da
natureza humana com vontade irracional e sem finalidade. Freud
(1856 – 1939) considerava a criança como depravada e seus instintos seriam
antissociais e pervertidos. A educação deveria levar em conta essa realidade. Como
consequência dessas concepções pessimistas vai surgir o autoritarismo
pedagógico, a aceitação passiva de tudo o que venha do mestre; um sistema
disciplinar rígido com castigos severos e até corporais visando dobrar a
vontade do educando já inclinado para o mal. Crítica
à luz da Doutrina Espírita - Cabe aqui a mesma crítica aos estudos anteriores. Pronuncia-se
a Doutrina Espirita: “o homem nasce bom ou mau segundo
seja ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado”. QE III 130 E
reafirma: “como nosso mundo é um dos menos
adiantados, nele se conta maior número de Espíritos maus do que bons”. O LE 872
III. E
arremata ‘’... Precisais do mal para sentires o bem; da noite para admirardes a luz; da doença para
apreciardes a saúde. Naqueles outros mundos não há necessidade desses
contrastes”. EE III §I. Por
outro lado, em tese a Filosofia Espírita repele o pessimismo quanto à natureza
humana por entendê-la em permanente processo de aperfeiçoamento. “Sendo perfectível e trazendo em si o
germe de seu aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente
no estado de natureza.” LL 776 § 2. “Não tendo sido criada perfeita a
alma, mas suscetível de o ser, a fim de que tenha o mérito de suas obras, a
alma pode cair em faltas, que são consequentes à sua natural fraqueza”. EE VI 6
§3. “Deus criou os Espíritos perfectíveis
e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade que dela decorre”. C I 1º
XI 20 §I. “As faltas que cometemos tem por
fonte primária a imperfeição do nosso próprio Espírito que ainda não conquistou
a superioridade moral que um dia alcançará”. LE 872 §10. Por
essas transcrições, afirma-se que a maldade no homem é apenas conjuntural: o
bem e a perfeição são estruturais. Muitas
correntes cristãs afirmam que a origem do mal está na ideia do pecado original. “Os males, porém, mais numerosos são
os que o homem cria pelos seus vícios, os que provem do seu orgulho, do seu
egoísmo, da ambição, da sua cupidez, de seus excessos em tudo”. GE III, 6, § 1. Na
concepção espírita: ”o mal e a ausência do bem, como o frio e a
ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não
é atributo distinto; um é negativo do outro”. “Onde não existe o bem,
forçosamente existe o mal”. GE III 8, §1. Eliminar
uma imperfeição equivale, portanto, a adquirir uma perfeição. Concluindo: o homem não nasce invariavelmente
mau. “Nasce bom ou mau segundo seja ele a
encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado”. QE III 130. Leda Marques Bighetti – Maio/2016 |