Reflexões da autora em quatro textos:
Filósofos
chamando-se a si mesmos de realistas advogam, pregam, que todo homem tem uma
ligeira inclinação para o mal.
Baseiam suas
afirmações em posicionamentos mais teológicos que filosóficos, uma vez que
fincam suas raízes no chamado pecado original, que teria passado para toda
posteridade de Adão e Eva, pela geração dos corpos suas marcas negativas, com
duas únicas exceções: Cristo e sua mãe Maria.
Nessa
herança de Adão e Eva, estaria sediada a natureza decadente do homem com
debilidade da vontade e tendência para o mal. Não teria havido uma corrupção
substancial e sim perda da graça santificante, predestinação à glória bem como
imunidade dos sofrimentos, concupiscência, ignorância e morte.
Esses
“degredados filhos de Eva” pela redenção do sangue de Cristo recuperariam os
dons naturais que resultaram enfraquecidos.
Por força
dessa reparação, a criança nasceria com tendências boas ou más. Mantendo o
livre arbítrio, que assegura tanto a possibilidade de praticar o bem como o
mal, manterá sempre ligeira inclinação para o mal.
Ainda:
apesar dessa condição de escolha, a criança, o Espírito sofre três efeitos
importantes que terá que definir em prioridades maiores ou menores:
- 1 – intelecto – capaz de atingir a
verdade;
- 2 – vontade – apta a procurar o
bem;
- 3 – natureza – mais inclinada ao
pecado.
Através
do batismo, a alma seria expurgada do pecado original, mas permaneceriam seus
efeitos que deveriam ser superados pela iluminação da inteligência e
fortalecimento da vontade.
O
texto de “A Educação Cristã da Juventude” (“Filosofia da Educação” – Redden e
Ryan p 141) faz constar: “A maldade agarra-se
ao coração da criança e o papel da palmatória é expulsá-la. As inclinações
desordenadas, devem pois, ser corrigidas; as boas encorajadas e orientadas.
Acima de tudo, o Espírito deve ser fortalecido e esclarecido por meio da graça
sem a qual é impossível dominar os impulsos demoníacos.”
Crítica
à luz da Doutrina Espírita: A “verdade de
fé” do pecado original definida pelo Concílio de Trento apresenta-se
conflitante com a Justiça Divina.
Como
a prole inocente de Adão poderia responder pela culpa dos primeiros pais?
Seria
a Justiça terrena mais nobre e perfeita que a de Deus?
O
julgamento dos homens não permite a condenação além do crime, nem que a pena
alcance os familiares do delinquente.
“Nenhuma pena passará da pessoa do condenado.
A lei regulará a individualização da pena”. Incisos XLV e XLVI do art. 5º.
A
Doutrina Espírita dá sobre o pecado original um sentido mitológico e alegórico
e desbarata a passagem, diga assim, para a descendência.
“A responsabilidade das faltas é toda pessoal,
ninguém sofre por alheios erros, salvo se a eles deu origem”... O Céu e o Inferno 1ª, VII, 21.
“Muitos com mais razão, consideram Adão um
mito ou uma alegoria que personifica as primeiras idades do mundo”. O Livro dos Espíritos q.51 §2.
“A espécie humana não começou por um único
homem; aquele a quem chamais Adão, não foi o primeiro, nem o único a povoar a
Terra” O Livro dos Espíritos q. 50.
“Adão personifica a Humanidade; sua falta
individualiza a fraqueza do homem em que predominam os instintos materiais a
que ele não sabe resistir”. A Gênese
– XII, 16, §2.
A
“Gênese” (XI, 46, §§ 1 e 2) evidencia um texto muito interessante quando ensina
que:
“A doutrina vulgar do pecado original
implica, conseguintemente, a necessidade uma relação entre as almas do tempo do
Cristo e as do tempo de Adão; implica, portanto, a reencarnação. Dizei que
todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados na Terra ao
tempo de Adão e que se achavam manchadas dos vícios que lhes acarretaram ser excluídas
de um mundo melhor e tereis a única interpretação racional do pecado original,
pecado peculiar a cada indivíduo e não resultado da responsabilidade da falta
de outrem a quem ele jamais conheceu”.
Leda Marques Bighetti – Abril/2016 |