Reflexões da autora
em quatro textos:
Os estudos abordados levam ao
questionamento do tema acima.
Importante perceber que no
transcorrer dos tempos várias teorias procuraram oferecer respostas que se
tornam interessantes ao conhecimento do espírita. Vejamos:
John Locke (1632-1704) advogava
a ideia de que o homem ao nascer é como uma “tábula rasa”. A criança vinha ao
mundo como uma folha de papel em branco na qual, nenhum
sinal, nada estava escrito. Negava as ideias inatas defendidas por Descartes,
sustentando que todo conhecimento vem das experiências e das sensações. Com essa afirmação prejudicava a indagação: -
o Homem nasce bom ou mau?
Crítica à luz da Doutrina
Espírita: - O Espiritismo é inatista, isto é, sustenta, descreve e analisa
o teor das ideias inatas afirmando que estas não dependem das experiências ou
do que aprendeu depois do nascimento. Incorpora as vidas sucessivas. Nestas, os
conhecimentos e as qualidades conquistadas têm efeito cumulativo de encarnação
para encarnação, embora permaneçam em estado latente, porém atuando a partir do
períspirito sobre a consciência.
Essa posição da Doutrina
Espírita antecede-se em Platão, Descartes, Leibniz, Kant. Os sustentáculos
doutrinários encontraram em “O Livro dos Espíritos” q. 218 a e 219:
“ – Não; os conhecimentos adquiridos em cada existência não mais se
perdem. Liberto da matéria, o Espírito sempre os tem presentes. Durante a
encarnação, esquece-os em parte, momentaneamente; porém a intuição que deles
conserva lhe auxilia o progresso. Se não fosse assim, teria que recomeçar
constantemente. Em cada nova existência, o ponto de partida, para o
Espírito, é o que, na existência precedente, ele ficou”. Grifo mantido
- Qual a origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem
estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, das línguas, do
cálculo, etc.?
- Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas de que ela não
tem consciência. Donde queres que venham tais conhecimentos? “O corpo muda; o
Espírito, porém, não muda, embora troque de roupagem”.
Quando encarnado convive com incontáveis oportunidades de adquirir
conhecimentos que não se limitam como únicas. Esses conhecimentos acontecem
também sem intervenção dos sentidos materiais: na erraticidade continuam
estudos, procuram meios de se elevarem; observam o que acontece nos lugares
aonde vão; ouvem discursos e conselhos de Espíritos elevados; percebe o que
lhes falta e procura meios para trabalhá-los; modifica suas ideias “... progridem depois da morte, mais ou
menos, segundo sua vontade e, algumas se adiantam muito”. Q.E q.156
Ainda trabalhando com a teoria
de Locke, frisar que ele não era reencarnacionista e admitia que a alma fosse
criada no ato do nascimento ou durante a gestação.
Lembrar que a Doutrina também
ensina, que em época remotíssima, a alma ao ser criada, também é uma “tabula
rasa” porque Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem
saber, mas com aptidão para tudo conhecerem
e para progredirem em função do seu livre arbítrio. Nessa condição,
eticamente falando, seriam como uma folha em branco, sem maldade ou bondade,
portanto, nem bons nem maus.
Recém-criados, entretanto, já começa a distinguir, muito confusamente, o que é bem
e o que é mal. De uma forma muito, muito incipiente, começa a sentir um mínimo
de responsabilidade. Nesse início, por assim dizer, de vida moral, as
experiências vão se estabelecendo, formando uma espécie de lastro gravando a
responsabilidade que carregará,
constituindo-se como atrasado, imperfeito se as imperfeições
predominarem, ou melhor, evoluído, se o bem tiver maior espaço. Desse momento
em diante, já não se pode dizer que não é bom nem mau.
Leda Marques Bighetti – Março/2016 |