Releitura de títulos desenvolvidos pelo Espírito Vianna de Carvalho em 1983 em “ À Luz do Espiritismo” na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Títulos mantidos em abordagens livres.
Sepulturas
É de todos os tempos o culto aos antepassados. No decorrer das épocas, encontramos monumentos mortuários, que vencendo os séculos se mantêm como atestado de amor ao corpo, e em nome desse afeto, ultrapassa na suntuosidade, as diretrizes do equilíbrio. Entre os egípcios, embalsamamentos seguidos de rituais sagrados, protegendo o corpo da decomposição, cercado de ouro, riquezas de valor incalculável na construção das pirâmides fabulosas. Câmaras mortuárias assemelhando-se a palácios erguiam-se por toda parte. Exorcismos complicados, oferendas aos Espíritos, eram mantidas e realimentadas, como meio de garantir a defesa dos despojos dos vampiros do mundo espiritual. Todo um cerimonial complexo e demorado era feito visando o perpetuar de uma imagem, e que, muitas vezes, retinha o “morto” escravizado as posses, joias que de nada lhe valiam para um prosseguir tranquilo. Em cada monumento, na sua forma, arquitetura e detalhes, também são possíveis que estejam impressos sentimentos, afetos, quase sempre com características de excessos. Em nome do amor, Artemísia, viúva do rei Mausolo, da Cária, mandou erigir um túmulo tão suntuoso que se consagrou como uma das maravilhas do mundo antigo e dando origem a palavra mausoléu. Superestimando o próprio corpo, rivalizando-se em imponência com os túmulos afro-asiáticos, encontra-se em todo mundo, palácios mortuários que deslumbram. Esses monumentos de pedra, queiramos ou não, são manifestações, não deixam de ser atestados vivos de objetivos pessoais, mas também de religião, religiosidade e ninguém em sã consciência nega o valor relativo que apresentam para as pessoas, em determinados estágios da evolução. Com Jesus, o sepulcro vazio modificaria esse cenário, pois visava ensinar que o túmulo nada retém ou guarda, demonstrando a imortalidade e a vida. Quando o Cristianismo se propagou, construiu-se ali uma igreja adornada de metais e pedras caras visando imortalizar o lugar da sepultura vazia. Os mártires dos primeiros séculos tiveram seus corpos colocados em espaços abandonados, e nesse cuidado necessário ressaltavam a vida imperecível, mantendo a lembrança nos exemplos, a confiança que o viver legou e sem que para isso tivessem necessidade de marcar lugares com marcas ou sinais identificadores. O homem atônito do século XIX, ao entender a mensagem codificada por Allan Kardec na qual a Imortalidade se projeta no dia a dia do ser, a sepultura perdeu a necessidade do luxo e o amor direciona-se ao Espírito imperecível. Respeito, medidas higiênicas necessárias, sepultamento, mas, não mais homenagens, obras de arte, perfumes, velas e pompas.
Leda Marques Bighetti – Novembro/2014
Nesse entender, é que os contemporâneos de Allan Kardec materializando o amor na lembrança querida doaram a seu corpo no Père Lachaise singelo túmulo de pedra bruta encimado pelo conceito:
“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei” expressando de modo incisivo que o Homem ali não está.
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