“A maior perda da Vida, é
o que morre dentro de nós enquanto vivemos”. Pablo Picasso
Dicionários,
enciclopédias, referenciam o tema com o sentido de privações, agravos,
ausências, danos, detrimentos, estragos, falecimentos, infortúnios, prejuízos,
desgraças. Privar-se, enfim, o ser de algo ou alguém que teve.
Essa concepção, na sua reação, está
intimamente ligada à estrutura íntima do ser, a forma como cada indivíduo lida
consigo.
É possível viver sem perdas?
Vive, o Homem, em estado de contínuas e
profundas mudanças, adaptações e ressignificações que a própria dinâmica da
Vida lhe propicia. Se analisarmos os dias, no seu rol de acontecimentos,
praticamente num processo inconsciente, obriga-o a desconstruções e
reconstruções. Essa mecânica, acontecem sem grande impacto; são vividas sem
grande dispêndio de energias psíquica e emocional. De fato, em fato, o ser
segue o fluxo da realidade dos dias. Não sente estar perdendo nada, porque a
velocidade do tempo, simultaneamente lhe apresenta outro desafio, interesse,
que se sobrepõe ao complexo do todo.
Totalmente diferentes serão as mudanças
que exigirão reorganização de vida, projetos, objetivos e sentimentos. O
consciente, desperto, fala de efemeridade da condição humana; insegurança das
ou nas relações; transitoriedade de tudo, especialmente da existência. Nessa
reflexão, destaca-se a realidade das doenças, amputações, desemprego,
aposentadoria, morte; crises da meia idade ou ideia de envelhecimento do corpo
físico, diminuição da autonomia, alteração na aparência, enfim ...
Embora, sejam situações reais, atuais,
essas ideias estão enraizadas no passado, porém, paralisam a vida no presente,
vedando, afunilando o futuro.
Por atavismo, talvez por cicatrizes
profundas, por não ser desperto a conhecer-se, mágoas, decepções, dúvidas
quanto à capacidade de superação, dominam.
No entanto, os fatos que chegam, são
impossíveis de serem mudados, certeza essa que visa despertar, sair de uma
forma paralisante, para reinterpretar a dor, o fato de forma diferente.
Tal postura, implicaria a que o indivíduo,
parasse: analisasse o acontecimento em qualificações de prós e contras;
percebesse finalidades, causas; elimine ou aceite as que pareçam viáveis;
decida por paralisar-se na decepção ou pela superação que levará à superação da
perda.
Destaca-se, que não há como continuar como
se nada tivesse acontecido ou apenas passar por cima. Haverá sim, que se optar
como vai se lidar com os fatos em vida de certezas, esperanças e alegrias,
embora sejam estas diferentes das de então.
Traz o ser, de dias passados nesta ou de
outras vidas, mentalidade de vítimas, resquícios de sentimentos negativos, que
emergem evidenciando a certeza da nulidade na incapacidade das superações.
Mais um motivo para deter-se em esmiuçar
o fato, descobrir-se com valores e razões que promovam confiança na descoberta
das novas oportunidades, que, toda perda traz em si.
Estudiosos destacam, que dentre os
processos de mais difícil superação, o luto, a perda de seres queridos, é a que
mais exigirá para que os processos de readequação de vida aconteçam. Por isso,
talvez mais que as outras perdas, esta exige que se tenha nela, analise, busque
apoio, fale a respeito, não se isole, mas no contato aliviar o sentimento da
perda. Sem esse cuidado, a dor pode se tornar em sofrimento contínuo,
prolongada, crônica, destrutiva.
Na realidade, a dor em si, seja qual for a
face com que se apresente, visa chamar o ser para que transcenda, supere os
pessoais limites; recomece, tomando decisões saudáveis. Deixar de ser reativo,
fazer alterações no próprio viver; deixar de ter dó de si. Note-se a
importância de sair do “Deus quis assim” e trabalhar a realidade tal como
aconteceu – não há retorno -. Encarar a realidade; descobrir-se com
potencialidade que é; cultivar a realidade na certeza de futuro de paz e
realizações, acolhendo os ganhos que as novas situações proporcionam.
“Esquece os enganos que te assaltaram.
Deita fora as impressões improfícuas.
Recomecemos, pois, qualquer esforço com
firmeza, lembrando–nos, todavia, de que tudo volta, menos a oportunidade
esquecida, que será sempre uma perda real”. Emmanuel - “Palavras de Vida
Eterna”, 1.
Leda Marques Bighetti – abril/2025 |