Os textos anteriores, embora reais na
matéria do autor, receberam a ordem que na pena poética dele, oscilavam aqui e
ali, em meio a descrições de uma realidade que lhe era gritante.
Para que nos colocássemos a par, inserimos a
promessa da vinda do Consolador (que no texto dele não consta); depois,
trouxemos o planejamento; porque a França seria a escolhida; o que ela oferecia
e que era imprescindível, as repercussões, os reencarnes no sul do Continente
americano e finalmente o porquê do Brasil.
Após essa liberdade, parece-nos
importante transcrever literalmente como Victor Hugo encerra:
“Não
seja, pois, de estranhar a “predestinação” do Brasil para o labor espírita nem
a sua aceitação ampla e profunda por todos os segmentos da sua sociedade desde
o princípio, salvadas raras exceções.
Após a desencarnação de Allan Kardec, companheiros seus de lide e
médiuns que cooperaram na realização da Obra Colossal, retornaram ao corpo ao
programa estabelecido com entranhada fidelidade aos postulados que exigem
dedicação, renúncia até ao sacrifício, e fé estribada na razão.
Renascera, portanto, em número expressivo, espíritas por segunda vez,
alguns outros que conheceram a Doutrina antes do retorno ao corpo, a fim de
promoverem a grande arrancada da divulgação e da realização doutrinária,
capacitando-se a devolvê-la ao berço de origem e ao mundo, na mesma pureza e
limpidez com que a herdaram do insigne Missionário.
Não que tudo transcorresse em clima de facilidade e mesmo de harmonia,
porque onde se encontra o homem, aí se fazem presentes as suas paixões.
O trabalho se apresentava e prossegue gigantesco.
Fazer derrubar velhas e arcaicas estruturas do comportamento ancestral,
utilitarista e apaixonado, para dos escombros emergir uma nova mentalidade
aberta à vida, que faculte espaços à solidariedade e ao amor, constitui um
desafio dos mais expressivos. Ainda mais, se for examinado que muitos dos
modernos trabalhadores da seara espírita são antigas personagens comprometidas
com facções religiosas beligerantes, bem como partidos políticos exaltados, ora
aprendendo disciplina e submissão, transferidas das posições relevantes para as
de serviço, que o mergulho no corpo não pode obnubilar completamente as
anteriores impressões que lhes caracterizavam antes a conduta.
Penetrando no espírito do Espiritismo, ressumam, inevitavelmente, em
todas as criaturas, as suas antigas predisposições, seja na área da informação
científica, ou da filosófica ou da religiosa. Todavia, na síntese perfeita em
que se apresenta a Doutrina, como campo de harmonia desses três fundamentos do
conhecimento humano, é que se expressa o conteúdo do Espiritismo que não pode
nem deve ter dissociado nenhum de seus membros.
Objetivando, porém, essencialmente preparar o homem para a continuação
da vida além do túmulo com todas as responsabilidades que lhe dizem respeito, é
inevitável que a feição moral, rica de religiosidade, desperte-lhe os
sentimentos superiores, pasmando-lhe a conduta evangélica, consequência natural
da comprovação científica e da comprovação filosófica.
Outrossim, porque consoladora, alcança de imediato o ser perdido nos
abismos do desespero, da angústia e da saudade liberando-o dos tormentos, por
atingir o âmago das questões que desencadeiam os sofrimentos e acenar-lhe com
as esperanças felizes, mediante as ações do trabalho e a experiência auto
iluminativa da caridade.
*
Eis porque os litigantes de ontem, os delinquentes do passado, que
arrastam pelos séculos os caprichos e efeitos dos crimes, vieram a
reencontrar-se no pequeno burgo interiorano da comunidade brasileira, cenário
novo para as lutas da redenção. Formavam no grupo dos que haviam sido
transferidos, reencarnando-se ou não, para as plagas onde não tinham
compromissos infelizes e poderiam com melhores probabilidades, redimir-se,
purificando-se no crisol das aflições que o encontro com o Espiritismo
decantaria, na sucessão das experiências da evolução.
*
Superados os primeiros embates, os membros da família Patriarca de Jesus
seguiam as rotas do programa evolutivo que os atos anteriores e o comportamento
atual haviam traçado.” - Fonte: Victor Hugo – Árdua Ascenção.
Leda
Marques Bighetti – dezembro/2024
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