Um assunto que frequentemente pessoas dizem não
entender é quando o Espírito diz sofrer e descreve sensações normalmente
sentidas no corpo físico.
Antes de entrar no tema, há que se recordar que
sensação é reação física que atinge o córtex cerebral, sob ação de estímulos.
Desse modo, quando um agente externo impressiona os sentidos, produz neles,
alteração que conforme a intensidade e duração impressiona a consciência a aí
se arquiva.
A percepção desses momentos é que alcançaria o Espírito,
dependente, porém da carga emocional que a memória perispiritual captou. Tal
fato, comumente, se dá quanto mais traumática ou importante é a experiência
vivida; esse fato ativa os movimentos perispirituais, sendo que o Espírito não
precisará do corpo físico para “sentir”.
Tudo ocorre por efeito dos fluidos que ligam o perispírito às vibrações
das lembranças que lhes são próprias.
Esses sofrimentos podem ser morais como pesares,
remorsos, vergonha, ou sensações como calor, frio, dores, situações que a
consciência detida no fato revive com intensidade.
Explicando: o corpo é instrumento da dor, a alma tem
percepção dessa dor. A lembrança que conserva é tão penosa quanto quando se
realizou. Embora não mais tenha a ação física, a alma pode sentir-se gelando,
queimando ou afogando-se.
O Espírito pode ainda fazer comparação quando ainda
encarnado, voltando à alguma experiência dramática ou feliz ocorrida no
passado, experimenta agora reações correspondentes. As situações foram
superadas, no entanto, a lembrança delas faz voltar o efeito como se fosse
realidade.
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria. É
o agente das sensações exteriores. No corpo estas sensações estão localizadas
em órgãos que lhes servem de canal. Destruído o corpo elas se tornam gerais no
corpo perispiritual. Para o Espírito não lhe dói mais a cabeça que os pés- as
dores são gerais e embora ele não perceba isso, elas são muito mais intensas e
penosas.
Ensina a Doutrina que no instante da morte o
perispírito, em tese, se desprende do corpo físico. Quase sempre, o Espírito
não se dá conta da situação; continua a sentir-se vivo.
É comum atender-se em reunião mediúnica companheiros
com o corpo morto, horrorizados, sentindo os vermes que os roem. No entanto,
nem o perispírito nem o Espírito estão sendo roídos – apenas o corpo sepultado
– sofria a ação. Como mentalmente conservava-se ligado ao corpo em decomposição
ou ligado aos horrores que alimentava em pensamentos sobre o que aconteceria
quando morresse, tudo se apresenta como real.
Note-se que essa é uma percepção nova, uma vez que
quando encarnado não viveu a situação de vermes a roerem, embora muitas vezes
tenha trazido à mente a possibilidade natural do fato.
O momento atual, portanto, encontra matriz nos
temores, impressões, lembranças, hipóteses, conhecimentos vividos ou não. As
dores serão, nesse aspecto, consequências do modo como mentalmente se
posicionou frente aos fatos convividos, imaginados, cultivados. Daí a
importância, de enquanto encarnado, seja qual for a experiência vivida,
libertar se das lembranças penosas, impressões desagradáveis, agradecendo
inclusive por terem sido vencidas.
As influências das sensações materiais se atenuam na
proporção em que o Espírito progride, isto é, na medida em que o perispírito se
torna menos grosseiro. Espíritos elevados são inacessíveis às sensações,
funcionando neles plenamente as percepções de realidades infinitas.
Leda Marques Bighetti –
Julho/2023 |