O Sr. Cura Bizet, lembrado como alguém
possuidor das melhores virtudes cristãs, manifesta-se na Sociedade de Paris em
14 de maio de 1868. Diz estar ali não como espírita, pois não o era, mas, para
agradecer os pensamentos fraternos a ele endereçados. Conta que encontrou
amigos, acolhimento simpático, porém, ficou assustadíssimo porque encontrou
infelizes mortos pela tortura da fome.
Estes, procurando satisfazê-la, lutavam
entre si, uns contra outros, tentando arrancar um pedaço de comida que se escondia
entre as mãos, praticamente se entredevorando em espetáculo horrível,
desolador. Gritavam: “Pão! Pão! Não escutando nada nem ninguém”.
Como pode tal acontecer? Não estavam
mortos? RE 1867, p. 169
Para quem não conhece a constituição do
mundo espiritual pode parecer estranho que Espíritos, geralmente entendidos
como seres abstratos, imateriais, sem corpo, sintam fome, frio, necessidades
enfim.
Desconhecem que Espíritos são seres
idênticos aos encarnados só que, agora, com um corpo fluídico que também é
matéria.
A grande maioria de Espíritos cujo corpo
já morreu, ignorando tal realidade, continua no espaço terreno, por tempo
variável, como se estivessem encarnados.
Normalmente, é próprio acontecer com seres
que viveram totalmente imersos nos detalhes da vida material, totalmente
desconectado de sentimentos, de ideias espirituais. Continuam na ilusão da
carne, sentindo em angústias e necessidades que não conseguem satisfazer. O
perispírito, denso, pesado, não lhe apresenta diferença.
Dessa forma, legiões continuam sem o corpo
físico da mesma forma como se o corpo não tivesse morrido.
Não será, porém, um tempo sem fim; pode
durar dias, meses, anos, conforme seu estado moral comece a se processar, a
ajuda que aceite, o desejo de entender essa possibilidade de algo diferente.
É situação temporária subordinada ao
despertamento, vontade, empenho, uma vez que auxílio nunca vai faltar.
Grande parte das vezes, Espíritos ficam
presos a essas situações de forma intensa, decorrente do gênero de morte
experenciada.
Suicidas, supliciados, não suspeitam que o
corpo morreu. A carga de fluido vital ainda intensa, faz com que fiquem detidos
na atmosfera material. Outros, assistem o próprio velório como se fora de alguém
estranho.
É assim que o avarento guarda seus
tesouros; náufragos lutam contra o furor das ondas. Terminada uma batalha,
consolidada a paz, soldados continuam lutando, e a cada um caberá sair dessa
situação, naturalmente, descobrindo, aceitando que não mais estão no mundo
material. Daí para frente tudo transcorrerá sob outra ótica.
Difere em extremo para aqueles que, pelo
pensamento mais ou menos aprofundado, aceitam a possibilidade de vida futura;
que ora ou outra, mesmo que de leve, pensa no amanhã da Vida, atenuando
preconceitos seculares sobre alma, céu, inferno, purgatório, vida futura,
abrindo-se à solidariedade universal de mundos e almas, sejam elas com ou sem
corpo físico.
Leda Marques Bighetti – junho/2023 |