Quando o Professor Rivail em meados do século XIX começou a pesquisar os
fenômenos mediúnicos, a questão da emancipação da mulher começava discutida.
Ele, entre os anos de 1830/1840, rompe com os rígidos padrões estabelecidos:
casa-se com Amélie Boudet, nove anos mais velha, algo chocante para aqueles
tempos. Além disso, ela era intelectual, outro grande defeito; havia escrito um
livro e participará com ele nos trabalhos com a Educação.
Suas ideias sobre a valorização do sexo feminino vão se expressar
frequentemente nos artigos da Revista Espírita e em “O Livro dos Espíritos”
especialmente no cap. VI do Livro III, questão 822.
A Doutrina Espírita, consolidando os ensinos de Jesus, revela que o ser
humano é um Espírito encarnado que, segundo necessidade e objetivos, pode
habitar um corpo com morfologia masculina ou feminina.
Tendo Deus criado o Homem *simples e ignorante, o Espírito reencarna num
ou noutro gênero conforme circunstâncias necessárias a seu crescimento como
Espírito imortal, com sexualidade em funções específicas sem que com isso se
altere ou perca a igualdade essencial de filhos de Deus.
Almas, Espíritos, não têm sexo como constituição orgânica. Como devem
progredir em toda gama de experiências possíveis e inimagináveis, o centralizar
tal programa em apenas uma vertente, cada qual só conheceria posições sociais,
provações, deveres, oportunidades próprias daquele estágio. Reencarnar sempre
em um só sexo, limitaria a que o Espírito de um homem só conheceria o que um
homem conhece, e a mulher, idem.
Desse modo, a desigualdade existente é de funções, não de direitos.
Renascer num corpo com características masculinas ou femininas faz parte
do processo de aprendizagem, crescimento, desenvolvimento da potencialidade
espiritual, necessidades evolutivas vinculadas aos mecanismos da Lei de Causa e
Efeito, envolvendo nuanças específicas a cada um.
Sexo definido só existe no organismo, porque são, no atual estágio
evolutivo, necessários, além de situações próprias, às necessidades da
reprodução da espécie.
Espíritos, como criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros,
razão por que diferenciação sexual, sexo, seria inútil nos planos espirituais.
O que une, vincula, é o amor e a simpatia baseados na afinidade dos
sentimentos.
*Homem – etimologicamente designa a
espécie humana – homem e mulher. Costumes e derivações do significado original
é que utilizam a palavra para designar exclusivamente o sexo masculino.
Leda Marques Bighetti – Março/2023 |