Metades Eternas

Metades Eternas

     A expressão vem de um mito da cultura grega na qual Platão em seu livro “O Banquete” conta a história de seres criados com duas cabeças e oito membros. Insurgindo-se contra os deuses do Olimpo, tentaram vencê-los em uma batalha. Zeus, o deus supremo, resolveu dividi-los ao meio. Desde então, uma metade estaria buscando a outra, buscando complementar-se.

     Diante dessa ideia bastante difundida, Allan Kardec pergunta aos Espíritos na Codificação se tal mito tem fundamento. Nas questões 298 e 303 de O Livro dos Espíritos, questiona se na criação dos Espíritos haveria algum fenômeno como o descrito no Banquete.

      “Q. 298 – As almas que se devem unir estão predestinadas a essa união desde sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo a sua metade, à qual algum dia se unirá fatalmente?

     Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam, a perfeição que adquirem: quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta felicidade completa”.       

     A expressão levaria a que se entendesse que as almas foram criadas duplas e simples. Deveriam um dia se reunir para formarem o todo.

     Não existe isso. Nenhuma alma é destinada a unir-se a este ou aquele para completar-se.

     O que normalmente acontece é a tendência de alguém procurar outro alguém que lhe seja semelhante, com o qual se identifique nos gostos, modo de pensar, detalhes que levam a que se formem laços de simpatia e não necessariamente envolvendo sexo.

     Espíritas precisam ter discernimento para entender que um Espírito não foi criado para completar ninguém.

     Metades eternas, é, portanto, expressão vulgar querendo representar união fatal entre dois Espíritos.

     É preciso entender que a encarnados ou desencarnados não procede a ideia de que dois Espíritos se procurarão para nessa complementação permanecerem juntos por toda eternidade.

       Não existe união particular e fatal predestinada, no sentido de que cada um em alguma parte do Universo tem sua metade, seu complemento à qual deverá se unir. A simpatia que atrai um Espírito para outro.

     A simpatia que atrai um Espírito para outro decorre da perfeita concordância de suas inclinações, grau de elevação, o que não quer dizer que um deva ser complementação do outro. Se assim fosse não haveria individualidade. 

     Metades eternas, desse modo, se refere a Espíritos simpáticos não querendo isso dizer que são fadados a se encontrarem, permanecerem juntos.

     “Q. 303 – A teoria das metades eternas é uma imagem que representa a união de dois Espíritos simpáticos. A expressão é usada até mesmo na linguagem vulgar e que não deve ser “tomada ao pé da letra”. Os Espíritos que dela se servem não pertencem à ordem mais elevada. A esfera de suas ideias é necessariamente limitada, e exprimiram o seu pensamento pelos termos de que se teriam servido na vida corpórea. É necessário rejeitar esta ideia de que dois Espíritos, criados um para o outro, devem um dia fatalmente reunir-se na eternidade, após terem permanecido separados durante um lapso de tempo mais ou menos longo”.

Leda Marques Bighetti – Junho/2022

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2024/12/4 | 04:59:07

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