Atendimento a Desencarnado

      Uma das práticas educativas mais necessárias, úteis e caridosas é o acolhimento fraterno àqueles que deixaram o corpo físico.

      Face ao inusitado, não sabendo entender, explicar o que se passa, o que aconteceu, o que é realidade, sonho, o contato haverá de partir do encarnado para o desencarnado, através do atendimento oferecido a cada um, individualmente, seja qual for a característica pela qual se apresente: sofredor, desesperançado, carente, suicida, criminoso, vicioso, ou seja, a necessidade em que esteja detido.

      A Codificação não é pródiga em literatura responsável sobre o processo do atendimento mediúnico a desencarnados, uma vez que naqueles momentos de passado outra era a preocupação dominante. Construía –se as bases do edifício filosófico doutrinário.

      A pouca matéria havida, leva a que se conheça terem os Espíritos perversos dificuldade para se aproximar dos Espíritos elevados que só em nome de Deus lhes podem falar; isso os apavora e eles se afastam. Os homens não têm mais poder que eles, porém em relação aos encarnados sentem-se, diga-se assim, mais à vontade; a linguagem e os modos destes é mais facilmente identificável pela natureza deles.

      Num primeiro momento quando entre os encarnados, “...acham alguém que os moralize, a princípio não o escutam e até riem-se dele; depois, se aquele os sabe prender, acabam por deixarem-se tocar. (O LM-XXIII, 254,5).

      Não se pode descartar que o comportamento moral, na vida diária de cada um, seria meio excelente para despertá-los, apressar-lhes o progresso. No entanto, a grande maioria, está detida em situações desesperadoras; não conseguem observar, ouvir, ver, raciocinar. Será então, através da comunicação mediúnica, que encontrarão o meio mais poderoso para despertar, instruir-se, desviar-se do mal, desprender-se da matéria.

      “Interdizer as comunicações, é, portanto, privar as almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos dispensar”. (O Céu e o Inferno, 1º, XI,15).

      Destaca-se nas transcrições, a conotação educativa em uma classe diferenciada de educandos: de um lado o sofredor ou o obsessor e obsedado, situados numa situação pedagógica totalmente desconhecida pelo homem nas suas abordagens pedagógicas comuns. Em relação ao desconhecido, ao ódio, vingança e tantas outras mágoas, terá que criar oportunidade de interesse, possibilidades, análises para só então, sentindo-se livre, analisando o estado atual e possíveis possibilidades futuras, decidir se deseja mudanças.

      Outra reflexão importante, seria quando do atendimento a um obsessor cristalizado na sua “vítima”, no ódio, vinganças, em que o atendente necessita saber conduzir-se para não acentuar a situação já delicada.

     Falar em perdão, em Jesus, seria de bom alvitre?

     Não. Ambos aprofundariam o drama e a rejeição. Talvez até lhe tenham apresentado as duas opções, entretanto, como clama por justiça, perdão não tem espaço. Jesus, é possível tenha procurado. Como em seu íntimo não há espaço para o amor que consequentemente levaria ao perdão, pois é ele que “...cobre a multidão dos pecados”..., esse “Jesus” se mantém para ele, inclusive como alguém que passou a desprezar, pois sente que não lhe fez caso.

     Desse modo, deixar o Espírito se expressar, expor motivos, certamente arrazoados, respeitar, levando-o a falar da sua dor; questionando se esse atual estado de coisas está sendo bom para ele; ouvir. Haveria alguma forma de mudar esse mal-estar, enfim, questionamentos que levem a que se interiorize, que perceba a condição em que se encontra.

      O atendente não pode esquecer que esse Espírito trazido foi avaliado e percebido como estando no momento exato para despertamento, a necessitar apenas de alguém hábil que o motive ou o ajude a descobrir-se. Ele traz valores, conhecimentos que dormitam no íntimo, cumprindo ao atendente o delicado papel de trazê-los à tona, identificando numa visão global da vida, o momento em que está detido. Entender-se dentro de uma história recheada de porquês, consequências, de quem um dia já amou o bem, a beleza e, frente a algum percalço, precipitou-se, fixou-se em algum momento do tempo, do qual não consegue visualizar saída.

      Importante: o ascendente que o atendente possa exercer sobre Espíritos, está na razão da superioridade moral. Contra aqueles que ao atendê-los lhes ofereça energia da vontade, espécie de força bruta, eles lutam e são mais fortes. Estes atendentes, embora usem em alto e bom tom o nome de Deus, nada conseguirão: quem o usa não dispõe de autoridade moral, o nome Deus, é palavra como qualquer outra.

      Esses são detalhes da ampla ação educativa a ser realizada no atendimento a Espíritos trazidos às sessões mediúnicas nas quais se destaca a importante, imprescindível atuação do atendente que ao procurar despertar é o primeiro que necessita despertar.

Leda Marques Bighetti – Fevereiro/2021

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2024/4/24 | 06:03:52

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