É comum, em
conversas descompromissadas ou para quem atende desencarnados, ouvi-los dizer
que, em vista de terem vivido, quando encarnados, dias difíceis, existência
recheada de desafios, acabrunhados, não mais querem voltar a viver: aspiram ao
descanso.
A Lei,
entretanto, é inexorável. O Espírito imortal necessita de novos corpos,
independente de querer ou não.
Apesar da
repulsa pela possível reencarnação, dia virá em que, diante dos entendimentos
novos, entenderá a importância e significação de cada fato, tempestades e
acontecimentos. Esclarecido do porquê das dores, entende as perspectivas do
“destino” que delineou para si.
Neste momento ou
nestes tempos, passa a considerar misérias, tribulações, cansaços, desânimos,
coragem perdida. Compara ainda suas próprias dores frente às de tantos seres
iguais a si, com agravantes: são paralíticos, cegos, trazem males hereditários,
vidas tristes, obscuras, então, por que ou para que tornar a viver? Repetir
tanta infelicidade? Não; não quero voltar a viver.
Entrará nessa
altura a reflexão racional sobre a Imortalidade.
O pensar acima é
justo para aquele que tem a vida limitada pelos estreitos limites da fé, da
crença cega, fatalista que determina lugares e a espécie da punição. Realmente,
o viver é um amontoado de sofrimentos para os quais não há justificativa ou
explicações.
Acresça-se que,
sob esse pensar o homem cultiva a necessidade de esquecer, de não querer,
temer, recear até, de modo geral, a vida e o viver.
A religião,
crença, fé, cada uma a seu modo, deixou-lhe claro que cada um caminha com um
destino traçado por alguém que chamam de deus. Que arbítrio ou sob quais
orientações prescreve as vidas? Onde justiça?
No transcorrer
dos tempos, esse Espírito não conheceu o sentido Pai de um Deus de amor,
justiça e misericórdia. Não lhe foi ensinado ou não teve oportunidade de
conhecer, que em cada fato, acontecimento ou dor, esse amor divino está
convidando aprendizes, a que vivam diferente, candidatando-se por isso à
perfeição e à felicidade.
Os percalços do
existir, foram gerados por cada um no transcorrer dos séculos, nos quais as
escolhas menos felizes deixaram marcas na consciência e como esta traz gravada
o sentido do bem, conforme o homem vai crescendo, ela emerge exigindo
restabelecimento dos núcleos lesados pelas escolhas menos felizes.
Desse modo e sob
esse aspecto, não só é importante voltar a viver como é imprescindível para que
o processo educativo de superação do ser em relação a si próprio se desenvolva
em meio a um tempo, a um método que não só é educativo, mas sobretudo,
reeducativo.
Vida, portanto,
viver agora, voltar a viver em novo corpo, prosseguir vivendo hoje e sempre, dá
aos dias alvo infinito. Problemas, conflitos, dores, aparente confusão
inexplicável buscando a ordem que lentamente vai se delineando no presente no
rumo da harmonia.
Nesse pensar, os
dias, o voltar a viver deixa de ser inimigo implacável: reveste-se de beleza na
finalidade e no ideal que desconhecia; descobre que a vida nas vidas do
contínuo viver é plena de possibilidades novas, incentivos, crescimento,
melhoria em todos os sentidos, e, caso venha o cansaço, entende que faz parte
do declive dos anos, dos períodos acidentados, névoas, horas menos felizes, porém,
ainda ai, justamente porque entende a razão e necessidade deles, agradece, se
fortalece e marcha tendo em vista o vislumbrar de novos e floridos campos.
Nesse novo
entender, vida agora ou no futuro, é bênção que a cada entardecer vai se
fazendo mais claro. Vislumbra a luz do infinito plena de justiça, bondade e
amor!
Leda Marques Bighetti –
Julho/2020
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