Se admitirmos que o Amor é a lei maior do Universo e que foi nesse Amor
e por Amor que Deus formou os seres e tudo quanto constitui a Criação, como
entender que neste mundo a Natureza, animais e homens tenham dores?
Há contradição? Há dúvidas,
pessimismo capaz de levar o homem à desânimos e frustrações?
Analise-se que a Natureza
nos detalhes que ainda se lhe fazem necessárias, vez por outra, entra em
processos de acomodação das camadas que a constituem buscando também o
equilíbrio estável.
Animais, ervas, plantas nos bosques, aves nos
vários meios, convivem todos em dramas contínuos, normalmente ignorados ou nem
percebidos pelos humanos.
Conhecido pelo homem de
forma ostensiva: quantos animais, aves experenciam dor, sentindo, “sabendo” que
estão sendo preparados ou levados para serem sacrificados para o paladar na
mesa farta?
A Humanidade, através dos
séculos rolados, quantas dores de intensidade variável, porém, praticamente
constantes, ininterruptas.
Nesse apanhado, sem morbidez,
percebe-se a dor detida nas voltas dos caminhos.
Torna a questão: dentro
dessa realidade dura, por que dor?
Inusitadas são as
explicações às quais soma-se as explicações espirituais afirmando que são
castigos, punições, expiação, reparação de passado, resgate de faltas
cometidas.
Reflita-se: tanto a dor
como o prazer são duas formas extremas de sensação, sendo impossível não as
sentir, uma vez que estão implícitas à sensibilidade, sendo ambas necessárias à
evolução dos seres.
Por outro lado, a atual situação do Planeta
como mundo de expiação e provas, tem, na estrutura, como vimos acima,
necessidade de se acomodar, portanto, traz componentes causadores de dor.
O homem que nesse meio
habita ou habitou, já o fez em meio a inúmeras deselegâncias contra si e
principalmente contra povos e raças desequilibrando mais e mais, um todo que
buscava equilíbrio.
Dessa forma, junta-se como
que, amplas necessidades em busca de melhoria, reparações que recaem sobre cada
qual, na proporção dos desmandos causados, daí ser considerada, exatamente a
dor, como lei de equilíbrio e principalmente, de educação.
Por ora, infelizmente, o
homem só desperta para cuidar-se, cuidar do meio ambiente, quando reações o
machucam a ponto de despertar para fazer algo. Joga lixo no terreno baldio:
quando bichos invadem sua casa ou alguém fique doente por picada de insetos, a
dor será a única capaz de conscientizá-lo de que deve mudar hábitos.
Na vida espiritual, a causa
gera efeitos – a lei desequilibrada por cada insânia do homem – recebe a
alteração, registra e fica no aguardo do restabelecimento na lisura original
dela.
Matei, roubei, conspurquei,
enganei, magoei, menti, prejudiquei.... Embora, alguém tenha recebido a ação
nefasta, a causa fica com quem as gera, aguardando, num tempo próprio, a volta
às estruturas ideais do perispírito.
Dor – consequência de causas
– reajuste de padrão – efeitos esperando reacertos.
Sofrer, padecer,
desequilibrar-se com ela, embora seja opção, não é a melhor forma de
entendê-la: toda vez que se faça presente, busca reequilíbrio de algo. A forma
de convivência estará muito mais no modo como vai ser vivida, do que no fato em
si. Pede além do conhecimento das repercussões externas, renovação no íntimo,
regulando sensações, disciplinando sentimentos, educando-se no trato para com
ela, tentando descobri-la na sua função educação.
Desse modo, importante
conhecer função, necessidade de aprender a lidar, libertação de efeitos, que,
num entender novo, embora não se consiga ficar sem ela, pode-se fazê-la
redundar em causas novas que desalojem ou desgaste efeitos velhos.
Leda Marques Bighetti – Junho/2020 |