O vocábulo “Bíblia”, que significa “O
Livro”, reúne em seu conteúdo diversos livros da religião hebraica, escritos
por vários autores tanto nesse idioma como no aramaico. No século V, São
Gerônimo traduz para o latim na conhecida Vulgata latina. Esses livros retratam
o momento histórico do judaísmo primitivo.
Os cinco primeiros formam o Pentateuco
mosaico revelando a formação e organização dos judeus após a libertação do
Egito e chegada a Canaã. A redação deles foi atribuída a Moisés o que não é possível,
uma vez que relata inclusive detalhes de sua morte.
Pesquisas revelam que sua origem é baseada
na memória, no linguajar, na transmissão oral dos acontecimentos, que após o
exílio Esdras compila e os proclama em praça pública como lei do judaísmo
ditada por Deus.
Um leitor aberto verá ali, ao mesmo tempo,
posturas ingênuas ditando regras simplórias de higiene ao lado das impiedosas
leis de guerra, maldições contra aqueles que não aceitassem a “palavra de
Deus”. Os dez mandamentos, excetuando os dois primeiros que se referenciam a
Deus, resumem posturas morais destinadas a conter naquele momento, um povo rude
de pastores, agricultores, que deveriam temer a “palavra de Deus”, revestida
esta, de poder mágico.
Ressalte-se que o Espírito que ditou essas
leis no Sinai era o guia espiritual da família de Abraão, Isaac e Jacob, mais
tarde transformado em Deus de Israel. Esse Espírito desempenhava elevada
missão, preparando o povo para o monoteísmo.
Espíritos, mensageiros de Deus guiaram o povo
através de médiuns, naquele momento chamados de profetas. Moisés, inclusive era
médium de singulares exteriorizações, em constante ligação com Iavé ou Jeová,
violento e irascível, tão diferente do deus-pai que iremos conhecer através de
Jesus.
As igrejas católicas e protestantes
reuniram a essa coleção de textos, os Evangelhos de Jesus e deram a estes o
nome de Novo Testamento. Anexado aos livros existentes não pertencem à Bíblia.
São dois livros distintos. A Bíblia é indiscutível, dogmática e deve ser aceita
de acordo com a interpretação autorizada pela igreja católica. A Doutrina
Espírita reconhece o conteúdo espiritual ali contido, inclusive como sendo um
dos maiores repositórios de fatos espíritas, mas, seu entender não pode ser
igual ao das religiões do passado, apegadas às formas sacramentais de magia,
ritos e cultos exteriores do paganismo.
O desconhecer desses detalhes abre espaços
a incompreensões, inclusive ao que muitas vezes se ouve, de que a Doutrina é
contrária, não aceita ou desmerece a Bíblia.
Nas páginas da Bíblia, inclusive, há
anúncios do advento do Cristo assim como nos ensinos do Cristianismo há o aviso
da vinda do Espírito de Verdade. Os três momentos, se configuram como
importantíssimos ao despertar espiritual do homem. Cada um tem, vem com a
finalidade de esclarecer a anterior, e de acordo com a mentalidade mais arejada
e evoluída, entender símbolos, alegorias contidas nas duas primeiras.
De forma nenhuma, o Espiritismo se propõe
a contrariar ou reformar o ciclo das revelações. Iniciado com Moisés, que tem
nessa primeira fase, o caráter Justiça, se definirá em Jesus, como segunda
revelação assinalada pelo Amor e se encerrará, neste momento evolutivo do
Planeta, com a terceira revelação, ou seja, o Espiritismo, com a característica
Verdade.
Para esclarecimentos mais firmes, se
consultarmos “O Livro dos Espíritos” no item VI – 59, encontramos raciocínios
para os quais remetemos o estudioso, uma vez que entre outras reflexões, consta
a pergunta:
“Devemos concluir que a Bíblia é um erro”?
“Não; mas que os homens se enganam na sua interpretação”.
Os
povos fizeram ideias bastante divergentes segundo o grau de seus conhecimentos.
A
razão, apoiada na Ciência reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. A
que os Espíritos nos oferecem confirma a opinião há muito admitida pelos homens
mais esclarecidos”
As
ideias religiosas, longe de perder se engrandecem, ao marchar da Ciência e do
conhecimento; esse o único meio de não apresentarem ao ceticismo, um lado
vulnerável”.
Leda Marques Bighetti –
Janeiro/2019 |