O homem já estava deitado dentro da noite sem cor. Ia adormecendo, e nisto a porta um golpe soou. Não era pancada forte. Contudo, ele se assustou, pois nela uma qualquer coisa de pressagio adivinhou. Levantou-se e junto à porta - Quem bate? ele perguntou. - Sou eu, alguém lhe responde. - Eu quem? torna. - A Morte sou. Um vulto que bem sabia pela mente lhe passou: Esqueleto armado de foice que a mãe lhe um dia levou. guardou-se de abrir a porta, antes ao leito voltou, e nele os membros gelados cobriu, hirto de pavor. Mas a porta, manso, manso, Se foi abrindo e deixo Ver - Uma mulher ou um anjo? Figura toda banhada de suave luz interior. A luz de quem nesta vida tudo viu, tudo perdoou. Olhar inefável como de quem ao peito o criou sorriso igual ao da amada que amara com mais amor. - Tu és a Morte? pergunta. E o anjo torna: - A Morte sou! Venho trazer-te descanso do viver que te humilhou. - Imaginava-te feia, pensava em ti com terror... És mesmo a Morte? ele insiste. - Sim, torna o Anjo, a Morte sou, mestra que jamais engana, a tua amiga melhor. E o Anjo foi se aproximando, a fronte do homem tocou, com infinita doçura as magras mãos lhe compôs. Depois com o maior carinho os dois olhos lhe cerrou... Era o carinho inefável de quem ao peito o criou. Era a doçura da amada que amara com mais amor. |