Caminhamos devagar No turbilhão dos milênios, Como escravos, reis, boêmios Para a luz maior chegar. Múltiplos corpos vestimos Sob céus de todas as plagas Soçobrando em ímpias vagas Com destino aos altos cimos.
Enterramos nossa espada Em corações bons e amigos. Revivendo ódios antigos Matamos por quase nada. E entre a nevoa das orgias Que nos séculos se esfuma Fizemos do sexo, a suma Loucura de nossas vias.
Prometeus atormentados Por nossas próprias rapinas, Zombamos das leis divinas Blasfemando em altos brados. Neros ignotos já fomos, Judas em fuga da luz, Traindo o amor de Jesus, Buscando cetros e tronos.
Embrulhados em batina De Torquemadas ferozes, Levantamos nossas vozes Conspurcando a Fé divina. Ao sorvermos vinho a mesa Vinha o funéreo clamor Que em nome do Deus de Amor, Se erguia em fogueira acesa.
Entoando marcha ardente Ensangüentamos a França Com guilhotina e com a lança Tendo Robespierre à frente. E finda a revolução, Mais sangue manchou a terra Ao semearmos com a guerra Co’as mãos de Napoleão.
Mas nos séculos das luzes, Uma luz maior desponta Para mostrar-nos a conta De nossas passadas cruzes. E pelo Consolador Por Kardec codificado O Pai envia o recado Do seu infinito Amor.
E a voz que ecoa nos ares Exorta com doce acento: “Homens, chegado é o momento!” Destruí vossos altares Aos deuses da vã vaidade! Curvai-vos diante de Mim, Buscai-me no Amor sem fim! Basta de tanta impiedade!
“O novo milênio espera”. A terra regenerada Trilhando a luzente estrada Que é o sinal da Nova Era. Tremei, ó filhos, que lassos. Resistis à voz do Pai! Em frente! O grilhão quebrai! E vinde enfim aos meus braços!’ |