Havia num hospital de província um menino de 8 a 10 anos, cujo estado era difícil precisar. Designavam-no pelo nº 4. Totalmente contorcido já pela sua deformidade inata, já pela doença, as pernas se lhe torciam roçando pelo pescoço, num tal estado de magreza, que eram pele sobre ossos. O corpo, uma chaga; os sofrimentos, atrozes. Era oriundo de uma família israelita. A moléstia dominava aquele organismo, já de oito longos anos, e, no entanto demonstrava o enfermo uma inteligência notável, além de candura, paciência e resignação edificantes(1)

A definição de saúde é considerada popularmente como sendo a do estado oposto ao da doença. Para chegar a definição mais precisa de saúde, convirá esclarecer, da melhor maneira possível, o que vem a ser o estado de doença. Daí a definição de doença como sendo o conjunto de fenômenos desenvolvidos em organismos, associados a uma ou mais características comuns, que diferenciam esses organismos dos normais da mesma espécie, desta maneira , situando-os em posição biologicamente desvantajosa em relação àqueles. Com a finalidade de melhor caracterizar a definição de doenças, pesquisas foram realizadas tanto com profissionais da área da saúde como com leigos. Para os leigos a definição de doença é muito simples.Para eles doenças são afecções que causam algum tipo de enfermidade.Já os profissionais da área da saúde tendem a utilizar o nome de doença para designar conjunto de processos biológicos anormais, que se traduz por afetarem o grau de capacidade fisiológica, que pode ser mínima ou totalmente incapacitadora, ou a que leva à morte. Entretanto a mais difundida, entre os profissionais da área da saúde é a que foi elaborada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e que figura no preâmbulo de sua Constituição. Diz ela que saúde vem a ser "o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença". Fácil observar a falta de precisão, em especial no que concerne ao significado da expressão "completo bem-estar". Certamente, este pode variar de acordo com o indivíduo, o tempo e o espaço, bem como a presença de bem-estar não significa a ausência de doença.Desta forma , o que é considerado estado normal, encontra-se sujeito a características próprias do organismo . Outros profissionais da área de saúde, que não médicos, consideram o conceito do bem estar como uma melhor definição de saúde, por que mesmo com uma patologia restritiva, a forma de conviver com ela pode levar o individuo a manter ou não seu bem estar. Em outras palavras a doenças tem maior ou menor peso de acordo com o valor que o paciente dá a ela. Assim as pessoas sentem saúde e doença de diferentes maneiras e graus tanto como indivíduos como nas diferentes culturas .Um exemplo desta afirmativa é o fenômeno que se manifesta especialmente nas pessoas tensas e apreensivas onde , ao lutar para recuperar a saúde perdida, tendem a prestar maior atenção ao poder avassalador da enfermidade do que na possibilidade de cura. E desta forma, permitem que a enfermidade corporal se converta em um hábito tanto mental como físico. Por outro lado, há maior probabilidade de se encontrar bons hábitos de saúde, comportamentos de apoio aos outros e, portanto, bem-estar psicológico, em pessoas que têm uma visão espiritual positiva frente à vida.(2) A perspectiva espiritual inclui conteúdos existenciais que, por sua vez, têm profundas implicações no bem-estar físico e psicológico levando uma melhor resposta do individuo frente as enfermidades.(3) O caso de Marcel encontrava-se nesta condição.

...O médico que o assistia, cheio de compaixão pelo pobre um tanto abandonado, visto que seus parentes pouco o visitavam, tomou por ele certo interesse. E achava-lhe um quê de atraente na precocidade intelectual. Assim, não só o tratava com bondade, como lia-lhe quando as ocupações lho permitiam, admirando-se do seu critério na apreciação de coisas a seu ver superiores ao discernimento da sua idade. Um dia, o menino disse-lhe: - "Doutor, tenha a bondade de me dar ainda uma vez aquelas pílulas ultimamente receitadas." Para quê? replicou-lhe o médico, se já te ministrei o suficiente, e maior quantidade pode fazer-te mal...- “É que eu sofro tanto, que dificilmente posso orar a Deus para que me dê”.

forças, pois não quero incomodar os outros enfermos que aí estão. Essas pílulas

fazem-me dormir e, ao menos quando durmo, a ninguém incomodo." Aqui está quanto basta para demonstrar a grandeza dessa alma encerrada num corpo informe(1)

As doenças, principalmente aquelas que tiram a possibilidade do trabalho e as congênitas ,têm origem nas escolhas realizadas antes da atual reencarnação(4). A esse respeito Allan Kardec questiona os Espíritos:

... 258 Na espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida? 

– Ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio.(5)

Com relação ao sofrimento, a evolução contínua do Espírito permite sua melhor compreensão.Sendo este visto não como uma punição ou resgate mas como indicativo de progresso da alma.

...264 Como o Espírito escolhe as provas que quer suportar? 

– Ele escolhe as que podem ser para ele uma expiação, pela natureza de seus erros, e lhe permitam avançar mais rapidamente...(6)

... O Espírito pode, em vista disso, escolher a prova mais rude e, conseqüentemente, a mais angustiosa existência, na esperança de atingir mais depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar mais depressa. Aquele que deseja ver seu nome ligado à descoberta de um país desconhecido não escolhe um caminho florido; sabe dos perigos que corre, mas também sabe da glória que o espera se for bem-sucedido(6a)

O ser que enfrenta o sofrimento com toda a serenidade apesar dos assaltos infelizes a que está sujeito, demonstra ter fé na alma e em seu porvir, prova estar em condições de subir, com segurança e rapidamente, os degraus da evolução espiritual.

2 - Kurtz, M. E.; Wyatt, G.; Kurtz, J. C. Psychological and sexual well being, philosophical spiritual views, and health habits of long-term cancer survivors. Health Care for Women International, v. 16, n. 

3, p. 253-262, 1995. 3 - Wong, P. T. P.; FRY, P. S. (Eds.). The human quest for meaning: a handbook of psychological research and clinical applications. Mahwah: Lawrence Erlbaum, 1998.) 

4 - Capítulo traduzido do livro "Espiritismo e Humanismo", de autoria do Sr. Louis Fourcade.,Reformador nº12 – Dezembro/1950. 

5 - Kardec Allan , O Livro dos Espíritos, questão 258 

6 - Kardec Allan , O Livro dos Espíritos, questão 264 6a - Kardec Allan , O Livro dos Espíritos, questão 264,comentário final