O Livro dos Espíritos

Contendo os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade (Segundo o ensinamento dos Espíritos superiores, através de diversos médiuns, recebidos e ordenados por Allan Kardec).

LIVRO SEGUNDO

“MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS”

CAPÍTULO I – DOS ESPÍRITOS

QUESTÕES DE 76 A 131

I – Origem e Natureza dos Espíritos – 76 A 83

II – Mundo Normal e Primitivo – 84 A 87

III – Forma e Ubiquidade dos Espíritos – 88 A 92ª

IV – Perispírito – 93 A 95

V – Diferentes ordens de Espíritos – 96 A 99

VI – Escala Espírita – 100 A 113

VII – Progressão dos Espíritos – 114 A 127

VIII - Anjos e Demônios – 128 A 131

VII – PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS – 5

          As questões 116, 117, 124 e 125 levam a que se estude a perfectibilidade, neologismo criado por Rousseau para exprimir a capacidade que o homem tem de aperfeiçoar-se. (Não é o poder de se tornar perfeito, mas – de se aperfeiçoar -, portanto, só o imperfeito é perfectível. Em síntese significa a possibilidade de se aprimorar).

          Essas questões explicam que os Espíritos não ficam perpetuamente nas classes inferiores. Todos se tornarão perfeitos dependendo de cada um apressá-la ou retardá-la, perfeição esta que será sempre relativa. O Homem progredirá continuamente, mas de modo finito: A soma de seus progressos se entende por finita, no sentido de que jamais alcançará Deus, infinito em tudo. Recordar que no atual estágio, não detemos conhecimentos, desenvolvimento intelectual e moral para nem mesmo compreender infinito, portanto, compreensão maior decorrerá do grau de perfeição alcançado. Na proporção em que esta acontecer, a luz se fará, a névoa se dissipará.

          A própria natureza de Deus que nem conseguimos imaginar, por si só seria obstáculo intransponível para que os Espíritos atingissem, chegassem até Deus. Caso tal se desse, seriam também deuses, detalhe incompatível com os atributos do Pai: eterno, imutável, único etc.

          Criado, portanto, simples e ignorante, é o Espírito potencial perfectível. Essa potencialidade é projeção de e para o futuro que se expressa como tendência irrefreável para superar-se. Esse motor, desejo, impulso de sair de uma situação inferior para outra melhor; o constante buscar de novos patamares em que passado, presente e futuro se fundem na experiência do quotidiano, reflete-se no momento atual, exteriorizando sua progressão, termo que exprime desenvolvimento contínuo, gradual, sequente e constante, marcha em que o Espírito se vê inserido desde o instante da Criação.

          Dentro dessas reflexões, pode haver degeneração, isto é, os Espíritos podem se modificar para pior?

          Os Espíritos na Codificação (O Livro dos Espíritos 194ª; R.E 1862 p.010 e 1863 p. 163), ensinam que não. Quando o Espírito “conquistou” uma virtude, um conhecimento nesse sentido, jamais o perde. A marcha é progressiva, jamais retrograda.

          Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem do plano atingido, podendo nas diferentes existências corporais, ocupar lugares socialmente considerados menores. Como Espíritos continuarão a exteriorizar, viver de acordo com os padrões morais que detém. Normalmente, tornam-se esteios, exemplos no meio em que se inserem.

          O não entendimento desses detalhes pode gerar desentendimento, levando a que se ache contradição uma vez que é corrente a ideia de “anjos decaídos”, “anjos rebeldes”, concepções encontradas em quase todas as crenças e na tradição dos povos.

          Essa situação de inversão social ou habitabilidade em mundo inferior em nada interfere no sentido de poder levar o Espírito a retornar ao estado primitivo, a posturas menores. O teor moral foi conquistado certamente a duras penas e extraordinária ação da vontade mobilizada frente a um ideal. Incrustaram-se nele como propriedade, portanto, jamais as perderá.  Sua postura intelectual e moral será a mesma, seja qual for o meio em que se encontre. Os Espíritos não retrogradam; nada perdem do progresso realizado: de bons não podem tornar-se maus nem de sábios em ignorantes. Esse princípio só se aplica ao estado moral e não à situação material que de ótima, boa, pode inverter-se, se o Espírito fizer por merecer em consequência de razões que não caberia aqui determo-nos.     

            Para aprofundamento, encontraremos bibliografia em “A Gênese” – cap. X e XIV: “Deus na natureza” – Camille Flammarion II; “Revista Espírita” ano 1866 pag. 67-71 a 77; 1861 – pag. 45 e 1868 pag. 166 – 1859 pag. 80; “Evolução em Dois Mundos” cap 1; “Mecanismos da Mediunidade” cap III, ambos de André Luiz e “O Livro dos Médiuns” itens 75-77 e 98. Também no livro Educação Mediúnica – Teoria e Prática - vol 1 - Ribeirão Preto: BELE, 2005 de Leda Marques Bighetti. Para enriquecimento do tema remetemos ainda a: Gabriel Delanne – Evolução Anímica, Hermínio C. Miranda – A Memória e o Tempo, além dos citados ou transcritos no texto.

            Leda Marques Bighetti – Março 2017