156 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – ALLAN KARDEC

CAPÍTULO XVI :  SERVIR  A  DEUS  E  A  MAMON

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS: EMPREGO DA FORTUNA – ITEM 13

 Fénelon (*), considerando que o homem é apenas o depositário, o administrador dos seus bens, lembra-lhe que terá de prestar contas do emprego que faz desses bens, em virtude do seu livre-arbítrio.

Se ele tem a liberdade de viver como quiser, tem também a responsabilidade de arcar com as consequências dos seus atos. Assim, recebe todo o bem e/ou mal consequente do uso que faz dos valores materiais e espirituais que possui, em sua existência na Terra, de acordo com lei de ação e reação, de causa e efeito.

O mau emprego desses bens é usá-los apenas em seu proveito pessoal, na sua satisfação pessoal.

O bom emprego é o que beneficia também outras pessoas, não só os seus familiares.

“O mérito é proporcional ao sacrifício que para tanto se impõe”, porque dar do que sobra, depois de sentir-se plenamente satisfeito em todos os sentidos, não traz benefícios ao doador. Auxilia quem precisa, faz amigos, satisfaz sua vaidade de ser apontado como um homem bom, no conceito das aparências, mas não aos olhos de Deus, não de acordo com a lei da caridade, e da lei de causa e efeito. Não enobrece o Espírito imortal.

Lembra que a beneficência, a virtude de auxiliar os necessitados, é apenas um dos modos de empregar a riqueza, porque ela alivia a miséria, aplaca a fome, preserva do frio e dá asilo a quem está abandonado.

Mas umas das funções das fortunas, “um dever igualmente imperioso, igualmente  meritório  é  o de prevenir a miséria ”, proporcionando trabalhos de toda a espécie, porque “ o trabalho desenvolve a inteligência e exalta a dignidade do homem, sempre satisfeito de poder dizer que ganhou seu próprio pão, enquanto a esmola humilha e degrada. A fortuna concentrada numa só mão deve ser como uma fonte de água viva, que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu redor.”

O autor dirige-se aos ricos, esclarecendo que os que buscam empregar seus bens também no bem de outros, são os primeiros a beneficiar-se dessa fonte, no prazer e felicidade de poder auxiliar, que se constituem no verdadeiro prazer da alma, e não os prazeres materiais do egoísmo, que deixam sempre um vazio no coração.

Lembra que todos que espalham benefícios com seus bens, serão tratados como os servos da parábola dos talentos, que os multiplicaram, enquanto que os avarentos agem como o servo  que enterrou o dinheiro, deixando sua fortuna improdutiva.

Argumenta também, o autor, que Jesus se referia mais à esmola, “porque no seu tempo e no país, em que vivia, ainda não se conheciam os trabalhos que as artes e as indústrias mais tarde criaram, e nos quais a fortuna pode ser empregada utilmente, para benefício geral. A todos os que podem dar, pouco ou muito, direi, portanto: Dai esmolas, quando necessário, mas o quanto possível, convertei-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não tenha do que se envergonhar.”

Hoje – a mensagem é de 1860 – existem as mais variadas formas de promover o homem, através das grandes fortunas, mas também através das chamadas micro-empresas, de doações aos Centros de Pesquisas Científicas, nas Universidades, às Ongs, etc.

(*) Alguns dados biográficos de Fénelon estão no estudo nº 49.

Leda de Almeida Rezende Ebner